Wednesday, 23 January 2008

Facetas de um treinador a sério


Atente-se como, numa curta entrevista de uma página e em meia dúzia de frases este Senhor mostra tantas das características que sáo necessárias para se ser um treinador de excelência, ao mesmo tempo que revela transparência e abertura enfim, empatia, com os seus interlocutores (que no fundo são todos aqueles que acompanham o futebol), em vez de vir com mistificações sobre o futebol e com arrogantes e injustificadas tiradas sobre tirar e pôr amendoins.

Sublinhei aquelas que considero ser as melhores tiradas. Penso que são auto-explicativas e dispensam comentários.

PEDRO GOMES EMPRESTA AO ORIENTAL UMA EXPERIÊNCIA AO ALCANCE DE POUCOS
«Criar é o que mais gosto»
Por FILIPA REIS


AOS 66 anos Pedro Gomes, antiga glória do Sporting nas décadas de 60 e 70, vencedor de vários campeonatos nacionais, taças de Portugal e da Taça das Taças, diz-se um treinador feliz num país de clones. É, visivelmente, um apaixonado pelo futebol. Os olhos brilham quando começa a recordar os clubes por onde já passou, mas é o presente que o faz vibrar. Considera-se o dr. House do futebol e talvez por isso tenha sido convidado a pegar no Oriental quando o clube de Marvila estava no fundo do poço. Objectivo: subir à II Divisão.

— Como treinador já deixou o seu cunho de norte a sul do País e aos microfones da TSF é um duro crítico do futebol português. Tem tido muitos dissabores?


— Sou honesto, nunca minto, por isso, quando tenho de falar mal do futebol que se pratica em Portugal, faço-o. Não me esqueço de nenhum clube por onde passei e é claro que os piores momentos são sempre quando me mandam embora.

— Quem sabe nunca esquece. É um ditado popular que se enquadra na sua pessoa?

O maior inimigo do conhecimento é estar convencido de que sabemos tudo. Desde há três anos que entrei num novo ciclo, em que reflicto, analiso o futebol e tento encontrar respostas e soluções. Tenho pena de só ter despertado agora.

— Para si o futebol é uma paixão?

— Sem dúvida. Adoro treinar mas o que mais me empolga é criar. Por exemplo, no Oriental temos cinco formas de marcar os pontapés de canto e os livres e sinto um enorme orgulho quando ouço os treinadores adversários a dizerem aos seus jogadores: «Cuidado com as bolas paradas.» É sinal de que o meu trabalho dá frutos.

Dr. House do futebol

— Já disse que é o dr. House do futebol. Sente-se um médico dos aflitos?


— Os meus diagnósticos são diferentes. Primeiro caracterizo a doença do clube e depois analiso cada jogador para chegar à cura. É verdade que tenho salvo muitas equipas da descida de divisão mas também já subi. Aliás, o Marítimo chegou pela primeira vez ao principal escalão (1976/77) pela minha mão.

— Qual o diagnóstico que faz ao estado actual do futebol português?

— É fraco. O futebol está dependente de uma estrutura/planeamento. Os grandes gastam milhões de euros e não se organizam com pessoas de capacidade. A idade e a nacionalidade não tem nada a ver com a competência.

DE NORTE A SUL
No seu extenso currículo como treinador, Pedro Gomes conta com passagens por clubes do Norte ao Sul do País e até na Madeira. Rio Ave, Tirsense, Marco, Benfica e Castelo Branco, Académica, U. Leiria, U. Tomar, Sporting, Belenenses, Atlético, Torreense, Sintrense, Oriental, Farense, Olhanense, Marítimo e Nacional são os clubes que já treinou. Só ainda não esteve a trabalhar nos Açores.
«O mundo do futebol é complicado, em que se vive à base de dependência e compadrios. Nesse sentido, tenho o orgulho de dizer que nunca me ofereci para trabalhar. Ainda não calhou treinar no Açores, quem sabe um dia se me apresentarem um projecto que se enquadre com os meus métodos», salienta.

MAIS UMA SUBIDA NO HORIZONTE
«Equipa tem potencial»
O presidente do Oriental, José Nabais, pediu a Pedro Gomes a subida de divisão. No início, pareceu-lhe uma fasquia alta de mais, mas depois de conseguir fazer com que os jogadores descobrissem as suas capacidades respondeu afirmativamente ao pedido do dirigente.
«Entrei à sétima jornada e já tinham perdido muitos pontos. Tive algumas dúvidas, é certo, mas depois de conhecer a equipa apercebi-me do potencial. Estou satisfeito, pois se o campeonato começasse quando entrei o Oriental era líder isolado, tínhamos a defesa menos batida e o segundo melhor ataque da prova. A nossa massa associativa é muito exigente e temos de nos esforçar para agradar-lhes. Tem-nos apoiado e isso é muito importante, assim como a Direcção tem uma estrutura de apoio muito bem organizada», elogia.


«Superiores ao Benfica»

Desde 25 de Novembro que o Oriental não perde. Cinco vitórias e dois empates constituem o ciclo mais positivo desde que Pedro Gomes assumiu o leme, há sétima jornada, tinha a equipa conquistado apenas cinco pontos.
«Trato os meus jogadores com muito respeito e tento-lhes transmitir um discurso realista e positivo. Há muita solidariedade e cumplicidade entre esta pequena sociedade que é a nossa equipa», destaca.Os seus treinos são muito característicos. Começa sempre com uma pequena conversa com os jogadores. Qual é o objectivo? «Durante dois meses e meio nunca repeti um treino e considero ser fundamental explicar aos jogadores o que se pretende em cada sessão, por isso, antes do treino falo sobre o que vamos trabalhar. O treino é nada mais nada menos que a antecipação do jogo, é onde se ensina e o jogo é o exame. Agora, é certo que nem sempre o objectivo (vitória) é alcançado», responde. Pedro Gomes orgulha-se de dizer que o Oriental é uma das equipas que melhor futebol apresenta e até compara a sua equipa aos grandes de Lisboa: «Esta época já fizemos dois ou três jogos de qualidade superior ao Benfica, o que não é difícil, e até ao Sporting deste momento.»

LIVRO NA FORJA

«Mourinho é um mito»
Pedro Gomes é um devorador de livros. Não olha a autores nem a temas mas perde-se pelos temáticos do deporto-rei e também pelos de gestão. Lê vários ao mesmo tempo e cita-os com regularidade, embora mude todas as palavras, para incentivar os seus jogadores. Na forja tem um livro de 100 poemas sobre futebol à espera de ser editado e prestes a passar para o papel estão dois livros de crónicas sociais e desportivas.
«Quero escrever para acabar com certos mitos. Em Portugal vive-se muito disso. O último foi o Mourinho. Admiro-o como treinador e por ter conseguido mostrar o valor dos portugueses mas depois houve um arrasto dos dirigentes em contratar clones do Mourinho. Não se pode imitar ninguém só porque se trabalhou com o Manuel, o Francisco ou o António. O futebol é criatividade e imaginação, por isso temos de inventar coisas», critica.

Então, além dos livres e cantos que criou, o que é que tem na manga?

«O meu sonho é fazer treino personalizado. Porque é que só há treinadores de guarda-redes? Devia haver também treino específico para defesas-centrais, laterais, médios alas e pontas-de-lança», revela.


in Pasquim I, 20 de Janeiro 2008

Este post foi editado e cedido por Eddie-Verdde
Ficam os agradecimentos de todos os visitantes do Leão Tatuado

2 comments:

paulinho cascavel said...

Parabéns pelo Blog! É a primeira vez que aqui venho mas já deu para me emocionar com as imagens do SCP-Newcastle e do Garcia a fazer magia!
Desconhecia (falta minha)que o grande Pedro Gomes estava a orientar o Oriental. Enorme é o respeito a admiração que tenho por ele.
Já agora, onde é que se encontra esse Pasquim I?

Yazalde 70 said...

Muito obrigado,fico bastante agradecido com o seu comentario.
O pasquim l é a edição da Bola,neste caso a de 20.01.08
Peço desculpa por o nome pasquim ,não ao jornal a Bola(que todos sabemos serem vermelhos) mas ao Paulinho Cascavel.